sexta-feira, 16 de abril de 2010

Hoje eu peguei um ônibus errado e fui parar numa feira barulhenta,

..às 7:00 da manhã. Fazia sol, e frio também.
Entre as caixas de caqui, caixas de ovos, cascas de laranja, eu vi uma menina correndo melando as bochechas com picolé derretido de morango. Tinha 4 anos no máximo: bochechas iguais às minhas, cabelos iguais aos que eu já tive, e dentinhos pequenos e da cor-de-rosa (das cores da rosa, da cor das rosas). Veio correndo na minha direção sem querer, e esbarrou em mim porque tava olhando pra trás. Me olhou com susto e riu “ái, moça!” tão gostoso e melado, que eu - a moça - tive uma certeza pequenininha que, naquela manhã tão fria, e tão de sol, o ônibus errado me deixou no lugar certo.

domingo, 11 de abril de 2010

tanto, tanto, tanto.. que nem parece.

é verdade que a gente prometeu não falar nada, mas veja bem - e eu estou apenas escrevendo -, concorde comigo que não precisa de muito segredo pra disfarçar uma coisa assim, tão improvável. Pode passar o dia do meu lado, que ninguém vai achar que estejamos realmente nos vendo. O dia inteiro sem olhar, sem falar, sem cosquinha e sem carinho no cabelo; sem implicar, sem segurar o riso, e sem sua cara de peixe quando eu tento ficar séria. E quase sem pensar também. Quem olhar a gente não se olhando, nunca vai saber o tanto que você é meu. Nem que na verdade, de verdade, você o é sem ser. Eu vejo seu telefone vibrar em cima da mesa e você desligar sem parar de me olhar e sem nem interromper o assunto, e fico pensando como é triste a vida dessas pessoas que não tem nada disso e simplesmente andam por aí, de mãos dadas. E atravessam as ruas de mãos soltas. Que se beijam à luz do dia, perto dos outros, e se abraçam nos ônibus, e comem em lugares caros juntos, e dormem juntos, e têm tudo tão permitido que nem tem mais graça rir da última vez que precisaram se esconder. Eu não posso te beijar na fila do banco daqui do bairro, nem falar de você quando as ex-amigas perguntam das novidades. Mas eu nem tenho vontade de reclamar disso, nem de nada. Já tá tão legal a gente se ter sem as nossas horas chatas de dar explicação, ouvir desculpas e lembrar data. É como ter um mundo paralelo, e não levar ninguém lá, por que ele é difícil de entender, ou por simples egoísmo mesmo que é se ter certas coisas boas e indivisíveis. Tipo você. E não ter mais no outro dia. E depois ter mais um pouco. Só pra me deixar imprevisível, e não enjoada. Prá me ensinar a jogar xadrez, ou me levar na praia e falar sobre férias, ou política, ou piada de gosto duvidoso.