sábado, 27 de fevereiro de 2010

Encosta aqui

Quando eu voltar pro carro, vou contar até 10, vou te ligar... e deixa eu adivinhar agora o que vai acontecer.
Você vai ver o meu nome no visor, deixar o telefone chamando umas 5 vezes e dizer 'Bom Dia!' - como se não tivesse deixado chamar, ou como se já não fossem quase 10 da noite. A conversa sempre começa com uma razão bem séria. Horário do ônibus, tempo de viagem. E daqui a pouco você começa a fazer aquilo. Essa parte eu não sei dizer bem como vai ser, mas você sempre faz. Vai me contar uma piada de joãozinho. Ou vai começar a achar que fala inglês. Ou as duas coisas juntas. E me fazer morder as mão pra não rir muito alto dessa piada em idioma estranho que nem eu nem nenhum Google Translate nesse mundo entenderíamos. Alguém perto de você acha - com toda razão - a cena engraçada, e te resmunga uma pergunta que eu não entendo, mas que você responde bem baixinho "é ela", achando que eu não vou ouvir. Mas meu celular já tá no último volume, que é pra eu te ouvir do jeito que tô acostumada a te ouvir. Encosta aqui. Tão perto, tão perto que parece até eu. :)

Forgiiiive them, even if they are not sooooooorry

Ficar guardando raivinha e não perdoar é tomar veneno e querer que a pessoa que você não perdoou morra envenenada. Acho que Shakeaspeare disse isso. Antes dele, a bíblia diz sso. E agora essa música na mtv dizendo isso.
Veja bem, tamo nessa quinta-feira com cara de quem quer chover, e essa música com cara de balada às 9:00 da manhã dizendo "perdoa. perdoa eles, kk. mesmo se eles nem te pedirem desculpa."
Há um tempo atrás eu ficaria com raivinha, desligaria a tv. Há um tempo mais atrás ainda, eu concordaria. Concordaria com o cara bonito que tá cantando, com o Shakespeare, todo mundo. Mas hoje, quinta-feira cara-de-chuva, 9:00h cara-de-fim-de-férias, eu só fiquei meio triste. Porque eu sei que ele tá certo.
Mas eu não tô errada.
Difícil pra caramba é perdoar, né. Tempo passa. E não passa rápido. (até o tempo precisa de um tempo pra passar). As coisas fazem aniversário. Um dia você vai quase chorar rindo e pensar que, ahh, tudo bem né. Mas continua doendo. Tem dias que você esquece. E começa a esquecer mais dias na sequência. Cada vez mais dias. E aí ouve uma música na tv e continua doendo. E quando pensa em argumentar "tá bom, cara bonito. você está certo. mas eu não tô errada não..", ele te responde rindo logo depois do refrão "Drop your guard. kk, você não tem que ser espertinha o tempo todo."
Forgive them. Perdoa, kk.

Desliguei a tv e a música continuou no repeat.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O mar

Depois de colocar tudo numa caixa funda e antes de pensar num lugar mais fundo pra esconder a caixa e nunca mais achá-la, eu saí pela porta dos fundos, soltei a coleira do Bob e fui dar um mergulho.
Ridícula. Ridícula! Pra quê que eu quero esconder tudo que me lembra você numa caixa, e sumir com ela depois, se eu não tenho onde esconder o mar?

Hoje eu ri com o moço da padaria.

E ele me disse que se eu ri então é porque eu acreditava.
Ah, moço. Você nem sabe que já chorei o dia todo, e ontem todo, e antes também. Que eu cheguei aqui na sua padaria de óculos escuros e sol nem tá assim tão forte. E que meus olhos grandes já tão pequenos de tão úmidos e de tanto doer. Que eu to rindo assim fácil da sua piada é porque a gente fica com o riso fácil mesmo, depois que chora a te a cabeça doer. Chorei, chorei, chorei largado. E continuo acreditando.

Falsidade de folga.

Você me diz que não quer falar sobre o assunto e eu me ajeito aqui no chão duro, toda animada porque começando assim, a conversa vai ser boa. Não sei se você sabe, mas eu gosto é do não. Devagar e uma a uma, as suas respostas vão virando perguntas e, depois que eu pisquei, meu rosto já tava entre as suas mãos e tão perto do seu que o meu cabelo foi parar na sua camisa branca. Pra que essa camisa tão branca, e por que ela fica mais branca quando você veste? Não adiantou eu abaixar os olhos até que eles doessem, e resmungar que eu já tinha falado demais. Porque a noite insistiu em continuar.
E eu achei melhor não ficar com peso na consciência. Achei melhor me dar uma folga. Não é falsidade não, seu ridículo. É só uma folga. Folga dos meus “nãos”, “outro dia”, “gosto; mas não quero”, e folga de todas as outras também. É uma folga, e todo mundo sabe que todo mundo precisa de folga. É por isso que estão todos dormindo. E por que é que a gente também não tá dormindo? Eu acho que é porque se estivesse dormindo não estaria descansando, e por isso acabei aqui com você, dando uma folga pra mim. E talvez também porque hoje é feriado, eu estou quase falsa, você tá quase humilde e agora todas as pessoas que estão perto da gente estão quase roncando.
Por que é que você não quis mudar de assunto? Aí as minhas respostas viraram aquela música boa do Red Hot. “I close your eyes and I kiss you, cause with birds I share..” Fica puto e nem sabe que eu só quero é te ver com cara de puto mesmo. Acho lindo você não entender, e eu acho bom te explicar na prática mesmo. I close your eyes and I kiss you, porque agora eu só divido com os birds.

Eu não amo você.

E vamos agradecer aos céus que eu não te amo, porque assim posso gostar muito mais de você e te deixar me amar direito.
Se eu amasse você, não o faria esperar tanto, me xingar tanto, fritar tanto enquanto eu demoro pra te ligar de volta. E quando te ligasse não seria tão leve, tão eu, tão sem querer falar. Veja bem, quando você me faz uma daquelas perguntas, se eu amasse mesmo você, não te daria aquelas respostas que te fazem rir de mim, rir pra mim, pedir mais mins.
Graças aos céus que eu não amo. Que aí você ama. E eu amo que você ame. Amém.

Argh

Aos mesmos céus que não me deixam amar o outro, nem nenhum outro-outro, eu peço para que nunca pare de te odiar.
Porque eu nunca tive um ódio tão lindo, tão alegre, tão charmoso, tão cheiroso e tão quase saudável como esse.
E eu fico tipo aquele cara daquele filme que a gente viu ontem.
Como odiá-lo se não o amasse tanto?

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Um ridículo

Ela falou: "vamos terminar o relacionamento".
Foi de brincadeira, os dois sabiam. Começou como brincadeira, e a brincadeira estava terminando bem ali, naquelas despedidas bobas, como tudo que eles tinham. Até as conversas quase sérias sempre acabavam em bobeira, ou em ameaças – bobas – de morte. Tudo que eles tinham era bobo, porque concordavam (mesmo sem dizer nada) que a vida não tem que ser sempre séria, nem sempre velha e nem sempre pra valer.
Ele continuou a bobeira segurando o riso e fazendo cara de magoado, e perguntou por que é que então ela estava rindo, já que esse era um fim, e no fim as pessoas todas sofrem. Ela respondeu que assim como ninguém perde o que não tem, não se termina o que não começou. E sofrer o fim dessas coisas que não existem era muito ridículo. Ele riu rápido e sem querer como ria sempre que ela falava essa palavra. "Ridículo". E ficou pensando que não era uma palavra ruim quando ela o chamava assim e fazia cara de quem quer e não quer rir. Era quase elogio. Principalmente depois que escutou ela falar aquele dia pra alguém que só conseguia odiar se amasse muito. "Ridículo". Era quase elogio sim. Ele pensou essas coisas todas num segundo e riu de novo. E ela – que não tinha lido os pensamentos dele dessa vez – perguntou o que foi. Ele disse que foi nada. Que foi ótimo, já que então eles não tinham terminado de verdade.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Ele falou:

'você é a coisinha mais linda que eu já vi nessa minha vida’. E eu disse que então ele mentiu a idade, e era muito mais novo, e não tinha vivido nada. Ele riu mais do que o necessário e perguntou se eu sempre fico vermelha e desconverso quando alguém me chama de linda. Eu desconversei mais e disse que nada, que tava vermelha era de praia. Que fui a semana toda. Aí ele calou a boca e ficou me olhando com uma cara que eu não entendi. Depois ele voltou a falar e disse que tudo bem, que eu era ainda mais linda de bochecha vermelha, e continuou enchendo o saco, viajando cada vez mais. Algo sobre me botar num potinho e levar pra casa (ou eu tô doida, ou já li isso numa comunidade). E o resto do que ele disse eu realmente não me lembro. Ele ficou falando, gesticulando, foi explicar uma coisa e até desenhou na areia. E eu lembrando do céu. Pensando no mar, olhando pro sol, e lembrando do céu. De cada minuto do céu. Não sei quanto tempo passou, e eu levantei e fui pra casa, parecendo mal-educada. Mas não era, eu só..

eu duvido que você engula qualquer coisa depois de voltar do céu.

Aos que nos amam...

...que continuem nos amando, ainda que nos irritem ou que nós não os amemos. Que eles nos amem. Amém.
E os que não nos amam mais, que voltem a amar, já! Que os que já estão em outra voltem para a nossa agora! Mesmo que voltem do mesmo jeito-caso-perdido que todos eles são. Falando que tá calor pra puxar assunto, roendo a unha sem ver. Mesmo que voltem com os trululús chamando atenção e mandando winks (WINKS, mano, WIIINKS!) no MSN, e voltem as mensagens de texto com erros de português. Podem voltar. Voltem todos. Os que buscavam e traziam em casa. De moto, de carro, de bicicleta até. Que locavam filme do nada mesmo que fosse 4ª feira a tarde, compravam o sorvete mesmo que fosse longe, guardavam o lugar na cadeira da frente deles na escola, no banco da igreja, armavam o guarda-sol na praia.
Que toooodos voltem, viu. Pra ver se a gente não ter que terminar o dia escrevendo na 1ª do plural.