sábado, 30 de janeiro de 2010

Rímel

Rímel foi uma coisa muito boa que ela descobriu, que separa os cílios uns dos outros quando tudo o que eles querem é ficar grudadinhos, juntar as duas pálpebras e não saber de mais nada que tem lá fora. Por isso a dona da boneca comprou o tal do rímel, porque acha os olhos dela muito lindos pra ficarem escondidos. Acho que ela não sabe que o que a boneca vê de olhos fechados é muito mais bonito do que tudo que tem lá fora.

Ou então ela sabe, e morre de inveja.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Helicóptero

De dentro do helicóptero você vê. Mas a visão que se tem de dentro não é nem de longe comparável a tudo que você poderá sentir lá fora. Quando enfim a porta se abre e o vento te beija forte, automaticamente você morde os lábios. É pro coração não cair. Lógico que se sente apavorada - se não sentisse, não seria magnífico. Porém, só depois que abandonar o quentinho do helicóptero é que vai saber como é deitar nos braços do vento, como é tê-lo fazendo todas as curvas, dentro e fora.
Há uma coisa muito boa na queda.
Enquanto os ventos te inflam, eles assopram para fora todas as coisas medíocres que haviam em sua mente. E nesse curto tempo você terá consciência, uma terrível consciência, de tudo. Vai descobrir tudo que antes ignorava, e entender todos os mistérios do mundo; como porque a Terra é mais quente por dentro, porque a gente espirra, porque as formigas conseguem andar no teto e porque ele não te telefona há uma semana. Tanta consciência assim - é claro, você não é passarinho - começa a pesar, o que te faz cair mais rápido e esquecer todas a filosofias aéreas que por 4 segundos fizeram de você a pessoa mais esperta do mundo. Está na hora de acionar os equipamentos de aterrissagem que te trarão inteira ao chão.
É pena que tantas verdades ficaram no céu, e você ainda não sabe de nenhum equipamento capaz de trazê-las. Mas até lá vai colecionando as brisas que ficaram ventando na barriga. Aquelas que sopram sempre que alguém faz a gente lembrar do céu.

♫ (born in babylon - soja)

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

yet

Jon Foreman tem substituído Jack Johnson no meu media player nessa estação. Jack ajudou direitinho desde bem antes do vestibular. Quando eu gritava pra dentro que tava tarde e precisava dormir, - na mesma época que meu mp4 era novinho e não me aborrecia feito hoje - ele me cantava Lullabies me mandando fechar os olhos e quando eu os abria já era amanhã. Por isso achei bem justo, ao conhecer Jon, liberar Jack um pouquinho. Voltou de férias pro Hawaii, acho que foi "surfar Pipe, man!". Gracinha. *-*

Resultado disso é que Jon é mais direto. Fala umas coisas que Jack me escondia. Semana passada eu tava pirracenta, botei ele pra cantar pra eu arrumar 'as inspiration'. sabe o que ele me disse? "se não quebrar o seu coração, isso é amor? não, se não quebrar o seu coração não é o suficiente".
dãã. eu sei disso. Eu me conheço, Jon.
Eu sei que quando vem assim, facim-facim, vou enjoar rapidim-rapidim. Umas vezes eu finjo até que tô impolguis. Mas a impolgação dura tão pouco que não dá tempo nem de virar uma fofoca boa de se contar pras amigas, quando elas vêm te perguntando das 9dad's. Eu sei, eu sei disso. Mas falar assim em voz alta me dá vergonha, sabe. Por isso que eu faço sempre drama. No final, final mesmo, eu quero que você termine aqui comigo. Eu quero você. Mas entenda que se você vier na hora exata em que eu chamar, e se fizer isso sempre, vai acabar como Jack Johnson.
só volta pra mim com repertório novo..

how come?

Como é possível, pensou ela, sofrer por um cara de quem se manteve distância para justamente não sentir falta dele quando fosse embora?

Dois mil é 10

não falar palavrão; não ignorar; pensar antes de falar; não ser irônica com quem eu não conheço; aprender a cozinhar; aprender a usar a internet; aprender; aprender a pedir informação na rua; aprender a escrever; não escrever somente nos dias tristes; mandar embora mais rápido o que me causar arrependimentos; pedir desculpas; não morrer de vergonha; não morrer; ser menos desligada; menos crítica; gastar menos dinheiro com prazeres adolescentes; crescer; gastar mais dinheiro com o futuro; amadurecer; dormir cedo; dormir; voltar a colocar os dedos dos pés atrás das orelhas; voltar a tocar teclado; voltar a tocar Richard Clayderman no teclado; saborear sem repetir; não morrer; amar sem possuir; cuidar com mais amor; não quebrar as unhas; respirar melhor; melhorar a postura; disfarçar melhor o ciúme; desligar mais; telefonar quando eu prometer; prestar atenção; comemorar; cultivar; ler no ônibus, não dormir; ler; escrever; não copiar; ser e escrever; escrever; escrever..

minha mãe I

voltou pra casa à tardinha, e não tardou em verificar seu otimismo com meu irmão:

- alguém ligou pra mim?
- não
- hmm, alguém ligou pra você?
- não.
- pô, Daniel, ninguém ligou pra gente..

(...)

- e pra Clarissa?

sobre sonhos e dinheiro.

Esta tarde eu voltei à padaria para trocar os sonhos que comprei.
Aprendi na prática que sonhos dos outros - ainda mais os que se compram com dinheiro mesmo - são tão ruins que parecem até estragados.
A moça do caixa disse "pode trocar por outra coisa no mesmo preço ou volta aqui que te dou seu dinheiro de volta". E eu passei nas prateleiras três vezes sem sucesso nenhum, pra me dar conta de que não havia nada lá à altura dos meus sonhos docinhos. Acabei querendo meu dinheiro mesmo. Que coisa lamentável é trocar seus sonhos por dinheiro. Lamentável, mesmo dentro de uma padaria. Voltei pra casa assim, ex-sonhadora, capitalista. urgh.