segunda-feira, 29 de março de 2010

Eu acho que pode

Daqui eu vejo você fazer essa cara de mau para caixa de som. Essa que você sempre faz quando tá assim, concentrado. Até parece que a caixa ficar com medo de você e parar com a chiadeira.
Daqui ‘eu fico olhando as tatuagens do seu braço e começo a pensar que pode dar certo’. Eu vejo as suas 3 cicatrizes nas costas e acho que pode dar muito certo. E eu me lembro; e eu acho engraçado.
Na primeira vez você me disse que as cicatrizes foram de facadas que você levou brigando no bar do Bob. E eu devo ter feito uma cara muito feia, porque você riu alto, fazendo muito barulho e duas covinhas. Gostou do meu susto e inventou mais umas 20 histórias pras mesmas cicatrizes. Uma pior do que a outra. Só bem depois ficou sério e me disse a verdade: foi a quilha da sua prancha. Ou da prancha do seu amigo, ou do inimigo, eu sei lá. Acho difícil prestar muita atenção nos detalhes quando você tá sério assim. Tipo agora. Tipo no dia em que eu falei que não ia voltar de moto com você. E que se acabasse acabando mesmo, eu nem ia sofrer tanto, porque ninguém perde o que nunca teve. Você fez aquela cara e, sinceramente, eu não me lembro direito do que você argumentou nem de como me convenceu. Mas eu sei de cor essa sua cara de mau. Essa nunca me enganou, nem nunca me botou medo. Você faz ela e não me deixa prestar atenção em muita coisa, e o tempo corre, e as coisas acontecem correndo também. Tão rápido que eu nem me dei conta, mas já Quase disse que tá tudo bem. Não me dei conta, e você já resolveu seu problema com a caixa de som, já passaram das cinco e já estamos voltando pra casa. De moto, haha. Não percebi e já to aqui, pertinho da sua cicatriz branquinha. Eu olho pra ela, e escrevo esse texto na minha mente. Eu termino o texto pensando que talvez pode – mesmo – dar tudo certo.

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